quinta-feira, 17 de novembro de 2011

RECOMEÇAR A VIDA: DIREITO CONQUISTADO COM FORÇA DE VONTADE E SOLIDARIEDADE

Recomeçar, construir uma nova vida, voltar ao ponto de partida e seguir em frente. Para muitos, isso é uma proeza quase que impossível de se alcançar. Ainda mais, depois de um grave acidente. Mas para o pedreiro Geraldo Cordeiro, 50 anos, isso foi possível. Há três anos foi vítima de um acidente, devido a uma tonteira após um dia cansativo de trabalho: sofreu uma queda na rua que resultou em traumatismo raquimedular, uma lesão na coluna vertebral, causando danos à medula e raízes nervosas.

Geraldo se internou durante um ano em um hospital e passou mais dois anos na Casa de Saúde Nossa Senhora das Dores, em Cascadura, se tratando, fazendo fisioterapia, sendo acompanhado por uma fonoaudióloga e praticando a terapia ocupacional. A terapia é uma das principais atividades disponibilizadas pelo hospital para recuperação dos pacientes. Assim, seu Geraldo reconstruiu sua vida.

“Eu sempre fui acostumado a trabalhar, nunca fui de ficar parado e, quando cheguei ao hospital, só ficava deitado. Nunca imaginei que um dia ia andar de cadeira de rodas. Até fraldas cheguei a usar”, relembra seu Geraldo, falando sobre como foi difícil o recomeço após o acidente.Atualmente, seu Geraldo Cordeiro pode andar e mexer seus braços com facilidade. Depois de anos trabalhando como pedreiro, ele afirma ter descoberto uma nova profissão. Vive do seu trabalho artesanal, ensinado na terapia ocupacional: faz vasos, molduras, porta CDs, porta trecos e admite sentir-se muito feliz fazendo tudo isso.

“Depois do acidente tive que procurar algo para fazer. Então, aprendi a fazer esses trabalhos na terapia ocupacional. Nunca acreditei que ia ficar paralisado para a vida toda, como muitos médicos disseram. Sempre tive fé em Deus e hoje eu estou aqui”, declara, emocionado.Na terapia ocupacional os pacientes que sofreram uma lesão neurológica ou um AVC aprendem a fazer diversos trabalhos artesanais que auxiliam e, ao mesmo tempo, motivam a recuperação dos pacientes.

A terapeuta Edna dos Santos revela que, em datas comemorativas como Natal e Dia das mães, são organizados bazares a fim de vender os trabalhos feitos pelos pacientes no hospital para que, com o dinheiro arrecadado, ela possa comprar mais material para dar continuidade à atividade e para que os pacientes não percam a motivação de fazerem seus trabalhos. O foco principal da terapia ocupacional, de acordo com a terapeuta, é recuperar também a auto-estima dos pacientes e fazer com que se socializem uns com os outros.

Mariana Conceição dos Santos, 71 anos, é também uma paciente do hospital Nossa Senhora das Dores. Ela sofreu um AVC e teve todo o seu lado direito paralisado, contudo, é uma das mais animadas na hora de fazer os trabalhos. “O que eu mais gosto de fazer é desenhar flores e colar linha nos desenhos”, afirma dona Mariana. Ao falar sobre o AVC que a vitimou, ela se emocionou e chorou. “Eu faço a terapia porque quero voltar a andar, é o que eu mais quero”. A força de vontade de dona Mariana emociona a todos os outros pacientes presentes do hospital. Recuperar a locomoção motora ou fala e poder voltar a praticar sozinho hábitos da vida diária, como escovar os dentes, se vestir, pentear cabelo e se alimentar, ou seja, alcançar sua autonomia, é um esforço individual dos pacientes Casa de Saúde Nossa Senhora das Dores, que têm a ajuda e o carinho da equipe médica da unidade.
TRABALHANDO EM EQUIPE



Para o paciente estar na terapia ocupacional ele precisa ser atendido também por uma equipe mutidisciplinar: fisioterapeuta, psicóloga e fonoaudióloga. Ao iniciar a fisioterapia ele começa a recuperar os seus movimentos, e a terapia ocupacional, através das atividades, dá função a esses movimentos. É um trabalho que precisa ser feito em equipe. “A terapia ocupacional trabalha não só com a arte, mas também com movimentos das funções da vida diária”, ensina a terapeuta.

Segundo a fisioterapeuta Vivian Lopes, o seu trabalho consiste num processo de restituição dos movimentos agregado à terapia: “O nosso trabalho é tentar devolver as funções que o paciente perdeu ou melhorar a qualidade de vida dele a partir daquilo que “restou” e trabalhar com o lado que sofreu a lesão. Tentamos dar sustentabilidade a ele, não só com os nossos serviços, mas com a terapia ocupacional que também os ajuda a desenvolver outros tipos de aptidões”, explica.

O trabalho realizado pela psicóloga Regina Lúcia Gonçalves é também fundamental em todo o processo do tratamento. Se algum tipo de depressão, falta de entrosamento ou negação de participar das atividades é detectado por alguém da equipe, cabe ao profissional passar essa informação à psicóloga, para que ela possa conversar com o paciente e averiguar qual é o problema dele para que, assim, ele possa retornar à suas atividades individuais e em grupo.

No caso de pacientes onde a sequela foi no campo da fala, a responsabilidade fica nas mãos da fonoaudióloga Mônica da Silva. Além da fala, ela trabalha com a parte cognitiva, porque aí o paciente pode melhorar a dicção e a percepção. “O meu trabalho é voltado para a cognição, porque, sem ela, não se consegue fazer outras coisas. Há muitos casos aqui de pacientes que não vão atingir a fala, por isso procuro focar mais nessa parte da cognição, para tentar melhorar a compreensão e a inteligência do paciente e, também, a sua qualidade de vida. Mesmo o paciente não falando, ele pode nos compreender bem e fazer algum tipo de gesto em reposta, que também é compreendido”, revela Mônica.

A VIDA CONTINUA

A partir de um acidente automobilístico em dezembro de 1985, a vida de Tarcílio Cabraç mudou completamente. Aos vinte e sete anos de idade, ele se viu num momento crucial da sua vida. Já internado no hospital após o acidente, a perna direita de Tarcílio teve gangrena, e o médico disse a ele que uma decisão precisava ser tomada, a perna tinha que ser amputada ou então ele poderia morrer.

Tarcílio diz que não pensou duas vezes e concordou em fazer amputação, ele afirma ter sido um momento trágico, mas que para ele a vida não tinha acabado: “A vida continua, a gente tem que superar, não adianta ficar pensando que a vida acabou” declara otimista.

Ele diz ainda que mesmo após a amputação, seu estado de saúde ainda não era estável, ele teve uma hemorragia pós-cirúrgica, que quase acarretou sua morte: "Posterior a essa hemorragia, o meu quadro foi se agravando, a minha perda de sangue foi muito grande e eu tive que recolocar esse sangue todo no organismo e assim eu comecei a me recuperar" conta Tarcílio.

Nesse momento, ainda no hospital e mesmo com toda a situação delicada por qual Tarcílio passava, ele pôde conhecer alguém muito especial: "No período que eu fiquei na enfermaria eu acabei conhecendo uma menina, que é a minha atual esposa, a Elisabete, eu acredito que tenha sido um amor à primeira vista", revela muito feliz pela esposa que tem. Ele ainda fala sobre toda ajuda que ela ofereceu durante seu período de recuperação: " Nessa corrida toda ela foi uma pessoa que me deu apoio e ajudou muito na minha superação também" afirma Tarcílio, dizendo ainda que a esposa foi um dos elementos essenciais para sua melhora.

A falta de um membro não mudou em nada a vida de Tarcílio. Aos cinqüenta e dois anos de idade ele construi uma bela família com sua esposa e os dois filhos, tem hoje seu próprio negócio na área de eventos e ainda renovou sua carteira de motorista: " Muita gente achava que eu não ia poder dirigir mais, porque meu acidente foi muito grave, mas com seis meses após o acidente eu já estava de volta ao volante" , revela orgulhoso.

Tarcílio acredita que o que aconteceu com ele tem seu lado bom e atualmente ele também auxilia pessoas com o mesmo caso que o dele. Ele passa sua mensagem de positividade para aqueles que não acreditam que possam reconstruir sua vida.

> Clique aqui e confira o depoimento que Tarcílio deu aos Novos Trilhos

ACREDITAR É DE LEI

Leonardo Alves tinha 30 anos quando sofreu um grande acidente de moto. Tal acidente resultou em uma fratura exposta na tíbia e foi evoluindo com osteomielite. A situação se agravou mesmo após Leonardo ter passado por 13 cirurgias, um ano de injeções e muitos antibióticos ingeridos.

Vendo o sofrimento do rapaz, seu médico lhe sugeriu a hipótese de amputar uma das pernas. A sugestão deixou Leonardo em estado de pânico e despespero, mas depois de uma longa temporada pensando no assunto, ele resolveu tomar a difícil decisão de aceitar essa nova fase em sua vida, apesar do medo do desconhecido. Ele contou com o apoio de seus pais, esposa, amigo e familiares.
Segundo Leonardo, essa foi a experiência mais estranha que passou em toda a sua vida :
" Foi um situação muito estranha e bizarra pelo fato de eu chegar com a minha perna de cara limpa e 4 dias depois sair do hospital faltando uma parte minha ", declara Leonardo.

Passando essa fase de adaptação que levou cerca de 4 meses, ele foi atrás de mais uma luta em sua vida: arrumar uma prótese que se adaptasse a sua situação. Leonardo estava diante então de uma nova batalha, porque se fosse esperar uma doação ou ajuda de um hospital, ele teria que esperar estimados 2 anos para obte-la. Foi à partir desse dilema que seu então médico lhe sugeriu a ideia de fazer rifas para conseguir as tão desejadas próteses. Graças a rifa, Leonardo e seus amigos conseguiram arrecadar R$ 2000,00.
Com as próteses já compradas e usadas, chegava a hora dele conseguir um emprego, pois não aguentava mais ficar em casa parado. Após 2 meses usando a prótese , Leonardo consegui trabalhar em um convênio médico, no qual ficou quase um ano. Porém, ele não possuia muitas esperanças.

" Achei que ali não tinha um futuro pra mim. A empresa não tinha um plano de carreira para os funcionários,então fui atrás de outro emprego algum tempo depois e consegui uma vaga em um banco muito famoso,além de ter conseguido na mesma época o financiamento do meu apartamento" , afirma.

Para Leonardo, todo o sofrimento pelo qual passou o fez se tornar uma nova pessoa totalmente com mais garra e coragem. Ele acredita que nunca é tarde para lutarmos pelo o que queremos, passe o que passar , custe o que custar.

" Se eu soubesse que amputando a perna eu não ia sofrer nem metade daquilo que sofri teria feito tudo antes. Hoje eu sei que amadureci muito, aprendi muito. Meus amigos me procuram e perguntam como eu consigo ser feliz,e a resposta é fácil : eu creio no Nosso Pai, Nosso Deus."

SUPERANDO COM O ESPORTE

A vida de Andre Souza, seguia tranquilamente, ate que em 2001, depois de um acidente automobilístico, ele ficou paraplégico. O que poderia ser o final na vida de qualquer jovem, que tem sonhos e muitos projetos para realizar, para ele foi apenas o começo. Ao invés de ficar em casa, reclamando da vida, foi atrás de obstáculos a serem superados, e encontrou isso no esporte.

Ele já praticou várias modalidades que são adaptadas para deficientes físicos, a primeira foi o remo, onde defendeu clubes como, Flamengo, Vasco e Botafogo, seu time de coração. Foram várias competições, até pela Seleção Brasileira e as dezenas de medalhas tem destaque em sua casa. Depois disso conheceu o vôlei, handball e o surf, esse último veio com a ajuda da Ong Adaptsurf, que faz um trabalho muito conhecido, na praia da Barra da Tijuca. As pessoas são levadas ao mar, sentadas em uma cadeira especial e já dentro do mar são colocadas em cima da prancha, deitadas, e ficam “sozinhas” surfando. André explica que a sensação é de liberdade total, que só quem esta ali sabe dizer o que acontece. Nesse meio também participa de torneios e coleciona vitórias, fez vários amigos e já foi entrevistado por Ana Maria Braga, para falar sobre o benefício do esporte.
Além de atleta André gosta de conhecer coisas novas e se aventurar por aí. Não deixou de fazer nada que era do seu cotidiano, saí com os amigos para festas, faz trilha, toca violão, paga as contas do dia-a-dia. Hoje em dia, ele mora sozinho em um apartamento, mas não se assusta com as dificuldades, pelo contrário, gosta de vencer barreiras. Para passear usa seu carro, que é adaptado e anda pelas ruas normalmente, sem nenhum trauma daquilo que mudou sua vida. Ele surpreende também quando “anda” pelos corredores dos shoppings, ao descer as escadas rolantes sem pedir ajuda. Sua simpatia e felicidade são contagiantes, todos param para admirar, ele esta sempre de bem com a vida e sorridente. E tem orgulho de mostrar seus vídeos, principalmente da participação na novela Viver a vida, de Manoel Carlos. Ele apareceu nas cenas de um centro de reabilitação, onde Luciana, vivida pela atriz Aline Moraes, começava sua recuperação e deu depoimento sobre seu acidente e como o superou, que normalmente aparecem no final de cada capítulo, nesse tipo de folhetim.
Enfim, André continua a descobrir novas formas de se superar e mostrar que é possível ser cadeirante e continuar levando uma vida normal.